Às vezes, quando a saudade bate e não tem para onde ir, ela se aloja dentro de mim, ela enrola cordas em meu coração e começa a puxar devagar, os primeiros apertos são leves, me fazem sentir como quando se engasga ou se leva um susto, diria que são suportáveis, porém conforme o tempo passa e ela puxa a corda, cada vez mais forte, o coração sente, sofre, tenta se libertar, batendo mais e mais rapidamente, mas a força é grande e ele não consegue escapar, atado em meio aos nós ele sente a dor que é estar longe, que é querer e desejar, sem tocar, que é pensar e sentir, sem apalpar.
Vem estourar essas cordas que agora já fazem sair as lágrimas de meus olhos, que já subiram pelo meu corpo e agora apertam também a minha garganta, vem com sua espada e lacere-as, mas não corte meu coração, não me machuque, não piore a dor já tão intensa. Sua espada cortante é o seu olhar, é o seu sorriso, é o seu beijo, lança-os a mim e elas se partirão, se transformarão em calor, em sangue, em vontade, em sensação.
Nunca temi a dor e essa muito menos. Poderia senti-la por horas, dias, cada vez buscando mais o que desejo, cada vez com mais fome. Eu anseio por ela e sinto-a com prazer, pois não há nada mais luxurioso que matar a saudade com você, de todas as maneiras e sei que quando me encontras, desatam-se de ti também, pois percebo a tua sede, e nos satisfazemos juntos, nos libertamos.
No entanto, se um dia desapareceres, dizem que logo as cordas perdem a força, não causam mais o aperto, as lágrimas, a falta de ar ou será que é o coração que cansado de lutar se acostuma com as amarras que o prendem? Pois tenho certeza, que se não o tiver, mesmo que não haja água saindo de meus olhos, mesmo que eu continue a rir, ela sempre estará comigo, com as cordas envoltas, prontas para apertar a qualquer momento… a todo momento.