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Mensagem de saudade

julho 28, 2011

Às vezes, quando a saudade bate e não tem para onde ir, ela se aloja dentro de mim, ela enrola cordas em meu coração e começa a puxar devagar, os primeiros apertos são leves, me fazem sentir como quando se engasga ou se leva um susto, diria que são suportáveis, porém conforme o tempo passa e  ela puxa a corda, cada vez mais forte, o coração sente, sofre, tenta se libertar, batendo mais e mais rapidamente, mas a força é grande e ele não consegue escapar, atado em meio aos nós ele sente a dor que é estar longe, que é querer e desejar, sem tocar, que é pensar e sentir, sem apalpar.

Vem estourar essas cordas que agora já fazem sair as lágrimas de meus olhos, que já subiram pelo meu corpo e agora apertam também a minha garganta, vem com sua espada e lacere-as, mas não corte meu coração, não me machuque, não piore a dor já tão intensa. Sua espada cortante é o seu olhar, é o seu sorriso, é o seu beijo, lança-os a mim e elas se partirão, se transformarão em calor, em sangue, em vontade, em sensação.

Nunca temi a dor e essa muito menos. Poderia senti-la por horas, dias, cada vez buscando mais o que desejo, cada vez com mais fome. Eu anseio por ela e sinto-a com prazer, pois não há nada mais luxurioso que matar a saudade com você, de todas as maneiras e sei que quando me encontras, desatam-se de ti também, pois percebo a tua sede, e nos satisfazemos juntos, nos libertamos.

No entanto, se um dia desapareceres, dizem que logo as cordas perdem a força, não causam mais o aperto, as lágrimas, a falta de ar ou será que é o coração que cansado de lutar se acostuma com as amarras que o prendem? Pois tenho certeza, que se não o tiver, mesmo que não haja água saindo de meus olhos, mesmo que eu continue a rir, ela sempre estará comigo, com as cordas envoltas, prontas para apertar a qualquer momento… a todo momento.

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A Jardinar

agosto 16, 2010

A Jardinar.

A presença já não existe, existe, no entanto, a impaciência, a angústia e a ansiedade. A presença se fez dente-de-leão que voa, sobe-desce, rápida, ligeira, intocável. E por que ela se vai se podia estar se assentando aqui a meu lado; a fazer crescer e florescer, para criar no jardim a luz e a leveza de seus finíssimos extremos tão puros, brilhantes e efêmeros?

Se crescesse em meu jardim, eu não mais os assopraria para longe, como fazia nos tempos de menino que fantasiava em voar, em fazer as mesmas curvas, em ser livre, pois o que é ser livre? Voar sozinho, esperando as brisas, os ventos para que possa movimentar-se, desejando fixar-se em solo tenro, mas batendo em pedras ou terminando sua jornada arrastado pela inércia das águas.

Se crescesse em meu jardim, eu tirava um a um e os colocaria na grama para assim crescerem mais cem. E mais cem, e duzentos; e quando meu jardim estivesse repleto de branco, eu os assopraria todos de uma vez, como a retirar todo o ar de meus pulmões, escrevendo nele uma mensagem, uma música, um som, um ruído, um desejo. Com o poder de meu sopro, eles iriam como nuvem te buscar, para que me trouxessem de volta em sua leveza toda a tua beleza.

Aqui pertinho de mim, eu te plantaria para crescer, ter pragas, curar-se, florescer e murchar, renascer cada vez mais belo, para ficarmos cada vez mais fortes, com raízes profundas, com bases resistentes e prontas para os temporais e mesmo que as pétalas caíssem, nós ali ficaríamos e floresceríamos. Em cores distintas, sem formas restritas, com galhos bem tortos, machucados das quebras, com botões bem fartos, guardando perfume, como a dizer aos que passam, que a primavera virá.

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Corra caneta, corra

julho 6, 2010

 

Corre e conta a ele todas as minhas vontades, conta que quer parar de correr e não se esqueça de dizer as verdades, aquelas, das quais, você tem se mantida refugiada no estojo; não esconda os detalhes, não rabisque ou censure as partes picantes, não borre os momentos marcantes. Corre pelo papel, como se corresse por seu corpo, e descreve as curvas que ainda não conheces e descreve as pintas, os pêlos e as gotas de suor que brotam dos poros. Se apresse mais um pouco para que elas não caiam, não ainda, não antes que eu possa saboreá-las; não antes que a pele se esfrie com o nervoso da aproximação.

Caneta tatua no corpo dele o meu nome, para que possa possuí-lo; escreve em seu coração uma linda canção, que recita a vontade de ali se manter. Desenha na minha boca um balão e dentro dele os segredos. Desenha da minha cabeça uma nuvem de um único pensamento. Pinta no meu rosto um sorriso e no dele um beijo e une dois últimos em um único traço. Preenche os espaços brancos com tinta vermelha, enchendo-nos de calor; colore com brilho os nossos espíritos; tinge de mistério o nosso olhar. E rabiscando palavras, utilize-as para fazer clara a profundidade do mesmo e nesse momento escreva em oito mil linhas o tamanho da minha felicidade. Transcreva em muitos parágrafos todas as minhas sensações.

Corre caneta. Escreve o poema, o romance, o épico e tudo aquilo que você desejar, visões de um futuro de esperança, visões de um futuro sacana, visões ruins de um futuro solitário, escreve o que passou e o que ainda se espera. Escreve numa língua que só ele entenda, desenhe as figuras de amor, prazer e confiança.

Caneta, que é clara e objetiva, que escreve em linhas retas, sempre mostrando aquilo que quer, mas que sabe ser misteriosa, que escreve nas entre linhas, saia do estojo e comece a dançar sobre o papel, e nesse momento descreve nossas danças, os rostos colados, os movimentos, as ondas, as batidas e tom baixo de nossas vozes tentando acompanhar a letra; e com seu poder explicar, justifica minhas razões, meus desejos, justifica as dores e também os gracejos.

Amiga, canso-te com o ritmo com que faço tu te movimentares, mas escreve pra que saiam de mim todos os pensamentos; seja minha válvula, meu refúgio, seja principalmente minha honestidade, nunca me sinto tão sincero, como quando me apodero do seu poder de criar, de apagar e expressar os sentimentos, que podem ser vistos em metáforas, em eufemismos, em hipérboles, e tu sabes como eu os tenho. Agora companheira, deixo-te descansar, pois já me faltam forças físicas para manterem seu bailar, mas eu volto e tu desenharás e tu escreverás, e se de nada bom servir, que seja, tudo apagarás.

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Manequins

maio 18, 2010

Nas ruas o movimento é o  mesmo e as pessoas são diferentes. Nos bares, o público é o mesmo. Mas algo está diferente.
Não é o jeito de andar, o sotaque engraçado; nem os novos perfumes ou os aprendizados. Sou eu; constante mutável de todo momento. São os momentos saudosos, é o sentido de independência, é a dor, é carência, é calor causado pela pressa dos batimentos, acelerados pelas explosões entre insegurança e aventura.
São os sorrisos sarcáticos e as piadas de um povo sem comédia, que por nada e de quase nada. Nas cabeças, corpos. Nos corpos, corpos. E nas mentes? Nada se não conexões introspectivas ligadas ao som constante de batidas, já tão batidas, que cansam o dançar dos novos pés.
São eles ou somos nós? Cansei-me dos assuntos fracos sem ligação à emoção?
A emoção não está aqui, ela me liga e diz que me espera. Na minha terra está, e não a encontro a cá. Não consigo deixar de pensar se a culpa não é minha. Faço com que ela se ausente, seja por medo, seja por saudade, seja por vontade. No entanto, sinto que ela se perde em meio a temas que não buscam a sua existência.
Aqui no vale-tudo, ganha o mais bonito.  Valem mais carros e grandes imóveis à grandes amores, o que por aqui existe são afetos fomentados pela vontade e gozo do consumo. Esse que consome não apenas o corpo, mas também, o espírito. Que deixa vazio, um belo manequim vestido de Prada. As roupas definham e com elas se vão a beleza e a vitalidade. Quando se forem, terão arrastado consigo os amores.
Mas não precisa existir medo, pois sempre pode-se comprar um novo manequim, que se vestirá igual a ti, mas que te amará como você amou.

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Caneta e tutu

janeiro 22, 2010

Sim, esse texto está bem diferente e louco mesmo.. Nem sempre serão textos bons galera. rs

Ficando em casa, sem nada a fazer
Eu penso na estrada, quero correr
Pra uma roda de samba
Dançar pra caramba
E tudo esquecer.
Sentir nos pés o calor
No corpo o ardor
E suando demais
Afundar no amor
Chega de gosto de café de filtro na boca
Das tardes de filmes sem graça
De pensar no cigarro e na fumaça
Eu quero toda coisa louca
Seja muita, seja pouca
Vamos ter emoção
Viver sem razão
E deixar-nos levar
Onde vamos parar?
Se souberes, me contes
Vamos mudar o ritmo, desacelerar
Sem morenas dançando
Vamos valsar!
Se não fizer sentido
Valse na salsa
Salse no samba
Mas dance gostoso
Até desmaiar
A caneta se solta
E tenta acompanhar
Mas na meus pensamentos estão em tango
E ela não consegue igualar
Quando eu erro, rabisco
Ela faz cha cha cha
De um lado pro outro
A se requebrar
O tema se esqueceu
Mas nessa brincadeira
Minha mente acordou
O corpo desfatigou
E o que quer é bailar.